Em assembleia geral, nós, estudantes de Medicina do campus Garanhuns da
Universidade de Pernambuco (UPE), decidimos por realizar – a partir do
dia 28 de maio de 2012 – greve por tempo indeterminado. Esse ato serve
como última forma coletiva de reivindicar melhorias essenciais para o
funcionamento estrutural e científico desse curso médico. Acreditamos
que a transformação da cidade de Garanhuns em mais um pólo de Saúde do
estado de Pernambuco passa pela qualificação desse curso por meio das
seguintes solicitações:
1. Abertura da Biblioteca: O aporte de livros é necessário para, além da
formação médica, facilitar o estudo por parte daqueles que não podem
comprar os livros. Além do curso de Medicina, todos os outros cursos do
Campus Garanhuns da UPE também tem sido prejudicados pela
inacessibilidade aos livros ou pela ausência de livros essenciais a vida
acadêmica;
2. Segurança Integral: É preciso oferecer um suporte em segurança
durante a realização das aulas tanto do ensino superior como dos ensinos
básico e médio (Escola de Aplicação Professora Ivonita Alves Guerra),
pois, nos horários da manhã e da tarde, não há policiamento. Isso também
deverá ser fornecido durante os horários de não funcionamento do Campus
Garanhuns como forma de prevenção contra roubos ou saques de
mobiliários, biblioteca e de laboratórios (de informática, de Saúde);
3. Restaurante Universitário: Solicitamos o RU para atender discentes,
docentes e funcionários do campus Garanhuns. Vale lembrar que a presença
do RU, com seus preços acessíveis, é importantíssima como uma das
medidas de potencializar a permanência do estudante na vida acadêmica,
evitando a evasão, principalmente, daqueles de situação financeira
precária;
4. Casa do Estudante: Atualmente, mesmo sendo uma cidade universitária,
em Garanhuns tem ocorrido supervalorização dos preços dos aluguéis de
imóveis, e não há nenhum serviço de apoio à moradia dos estudantes.
Isso, certamente, interfere na permanência dos estudantes na vida
acadêmica, inclusive, o limitando no aporte financeiro para a
alimentação;
5. Concurso para Quadro Permanente de Professores: O número atual de
professores é insuficiente para atender todo o curso médico. Além disso,
os professores permanentes são quem de fato fomentam o tripé
universitário “Ensino, Pesquisa e Extensão”, imprescindível para a
formação curricular do futuro profissional médico. Isso também
possibilitará a promoção de cursos periódicos de capacitação em
preceptoria dos profissionais da rede de saúde da cidade de Garanhuns,
evitando a disseminação, para os alunos, dos “vícios do sistema de
saúde” incoerentes com a boa prática médica;
6. Concurso para Técnicos de Laboratórios: Muitas vezes, os estudantes
de medicina têm sido responsabilizados pelos cuidados – de ofício de
técnico de laboratório –, por exemplo, do laboratório de Anatomia.
Portanto, é necessária a presença em todos os horários acadêmicos de
pessoas qualificadas na gerência de cada laboratório do curso médico;
7. Peças Anatômicas Naturais: Solicitamos de imediato quatro cadáveres
mais a entrada de um cadáver por ano para atender, eficazmente, às aulas
de anatomia, à monitoria em anatomia humana, à prática em dissecção
anatômica e à avaliação prática dos conteúdos teorizados em sala de
aula. Atualmente, temos apenas um braço e uma perna, que serve ao estudo
músculo-esquelético. Não existe nenhuma víscera humana para o estudo
anatômico;
8. Peças Anatômicas Artificiais e Equipamentos de Laboratórios:
Solicitamos as peças referentes, principalmente, aos sistemas humanos
Respiratório, Digestório, Cardiovascular, Urinário e Reprodutor. Quanto
aos laboratórios de Citologia e Histologia, atualmente faltam lâminas
citológicas e histológicas; óleo de imersão; locais adequados para
guardar o material de estudo e microscópios funcionais;
9. Biotério: No sentido de transformar Garanhuns numa cidade-pólo de
produção científica e de tecnologias em Saúde, faz-se necessário a
existência de um biotério de modo a assegurar a boa condição ambiental
para o acondicionamento ou a eliminação de matérias biológicas
utilizadas pelos cursos de Medicina, de Ciências Biológicas, de
Psicologia e de possíveis cursos para esse campus como Enfermagem,
Farmácia e Física Médica. Trata-se de um lugar apropriado para a
manutenção de animais de laboratório, sob padrões sanitários
estabelecidos, para serem utilizados na pesquisa científica, na
preparação de produtos biológicos, em exames toxicológicos ou no
controle de qualidade de alimentos, medicamentos e vacinas. É importante
lembrar que o biotério pode gerar receita por meio da venda de animais
(de acordo com a necessidade de cada um dos pesquisadores-compradores) e
do auxílio nas pesquisas, além de gerar empregos;
10. Efetivação do Hospital Universitário de Ensino: Não há curso médico
sem um hospital qualificado para atender o currículo de Medicina. A
carga horária mínima do estágio curricular ou internato é no mínimo 35%
da carga horária total do Curso de Graduação em Medicina, com atividades
em todos os níveis de atenção à Saúde de acordo com a necessidade em
cada área. A prioridade do internato/estágio é a prática correlacionada à
teoria. E o ensino, a pesquisa, a assistência em Saúde e o suporte para
programas de pós-graduação são proporcionados pelo Hospital
Universitário de Ensino (HUE). Isso fortifica o SUS e é essencial para a
formação qualitativa dos profissionais de saúde. E, como atividade
estratégica para o estado de Pernambuco – no HUE para o curso de
Medicina UPE-Garanhuns – poderão ocorrer pesquisas clínicas
relacionadas, por exemplo, à avaliação de uma nova tecnologia antes de
sua incorporação ou ainda servir como política pública em Saúde para os
interioranos que, buscam assistência médica (muitas vezes de
procedimentos simples, mas inexistentes por falta de estrutura
hospitalar eficiente no interior do estado) na Região Metropolitana do
Recife (RMR), afogando o sistema de saúde dessa RMR. Em última análise,
investimentos em prol do HUE resultam em assistência de elevada
qualidade e produção de conhecimento científico no interior de
Pernambuco, sem os vícios que maculam o Sistema Único de Saúde;
11. Verificar Possíveis Terrenos para Construção de Hospital
Universitário de Ensino: O Hospital Regional Dom Moura foi ventilado
como sendo o HUE. Procedimentos básicos e atendimentos de alta
complexidade poderão ser efetuados no próprio Hospital Regional Dom
Moura quando da sua real transformação em Hospital Universitário de
Ensino. Contudo, fatores como um possível tombamento, devido ao valor
histórico-cultural do prédio do HRDM, limitam a reforma desse hospital à
Universitário de Ensino. Nessa condição, é necessária a busca de novos
terrenos para a construção eficaz de um HUE e evitar aspectos de
empecilho a reforma do HRDM ou de improviso que tanto prejudicam a
formação médica bem como desfavorecem a assistência médica de qualidade;
12. Construção do Prédio de Saúde: É preciso, urgentemente, construir o
prédio destinado aos cursos de saúde (Medicina e, possivelmente,
Enfermagem). Esse prédio, além das salas em quantidade suficiente, deve
conter os laboratórios de Anatomia, Citologia, Histologia, Bioquímica,
Fisiologia e de Práticas Clínico-Cirúrgicas adequados de acordo com
padrões do Ministério da Educação e do Ministério da Saúde para o curso
médico e, assim, oferecer dignidade desde o acondicionamento das peças
anatômicas naturais à vivência acadêmica do estudante de Saúde, sem
tomar o espaço de outros cursos do campus UPE-Garanhuns. Vale lembrar
que, atualmente, não há mais salas de aula para abarcar as turmas de
medicina dos próximos vestibulares;
13. Reuniões, Recursos Destinados e Trabalhos Efetivados: Solicitamos
reuniões mensais com o Secretário de Ciências e Tecnologia de
Pernambuco, a reitoria da UPE, a direção do campus Garanhuns, a
Coordenação de Graduação e a Coordenação do Curso de Medicina para:
elaboração de um plano de metas; exposição dos recursos utilizados e dos
trabalhos realizados quanto à estruturação do curso; exposição dos
projetos de engenharia e arquitetônicos do Prédio de Saúde e do Hospital
Universitário de Ensino; avaliação curricular de todos os períodos do
curso médico e planejamento da mitigação dos prejuízos à formação médica
obtidos pela atual falta de estrutura do curso médico da UPE-Garanhuns.
Nós – estudantes de Medicina do Campus Garanhuns da Universidade de
Pernambuco – não somos contrários a essa política de expansão da
Educação Médica e da Saúde Pública para o interior de Pernambuco. Isso é
extremamente necessário, já que os interioranos precisam disso. Na
verdade, não concordamos com que essa expansão seja a qualquer custo
sem, minimamente, considerar a dignidade do estudante, o respeito ao
povo do interior e a própria valorização do professor, forçado a
ministrar aulas sem a estrutura adequada de um curso médico.
Infelizmente, a sensação comum é de decepção.
Portanto, além da responsabilidade comum de estudar, tomamos para nós a
de diagnosticar esse processo de expansão da Educação Médica e da Saúde
Pública em respeito a nossos princípios de cidadãos, a todos que confiam
na capacidade desse grupo de futuros médicos e ao nosso sonho de nos
tornamos profissionais de uma Medicina séria preocupada com a vida
qualitativa do pernambucano, e não com a doença mesquinha de fins
meramente eleitoreiros. Somos 39 cidadãos, estudantes de Medicina e
desprovidos de qualquer interesse politiqueiro, lutando pelo o que é
certo e garantido no Estatuto da UPE, no Regimento da UPE, no Projeto
Pedagógico do curso de Medicina da UPE-Garanhuns, nas Diretrizes
Curriculares para o curso médico, na Constituição Estadual de Pernambuco
e na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.