A questão de uma prova, aplicada por um professor de filosofia a
estudantes do ensino médio da rede pública do Distrito Federal, está
rodando as redes sociais e causando polêmica por citar a funkeira
Valeska Popozuda como “grande pensadora contemporânea” no enunciado. A
questão pede que os alunos escolham a opção que completa trecho de uma
música de Valeska.
Uma foto do trecho da prova foi reproduzida no Facebook e houve críticas e discussões sobre o uso do funk na avaliação e sobre a classificação da cantora como “grande pensadora”.
O
professor de filosofia do Centro de Ensino Médio 03 de Taguatinga,
Antônio Kubitschek, que elaborou a prova, afirma que a atitude não teve a
intenção de provocar discussões sobre métodos educacionais, foi sim um
teste para verificar a atuação da imprensa e se ela dá destaque às
atividades escolares em momentos positivos ou negativos.
“Tivemos
um debate em sala de aula sobre a formação moral, a formação dos
alunos, e veio a discussão de como a imprensa participa desses novos
valores que vão surgindo. Isso gerou polêmica, e resolvi testar. Há 15
dias tivemos uma exposição fotográfica com fotos tiradas pelos alunos, e
a imprensa não veio participar. Resolvi então colocar na minha prova
uma questão que gerasse polêmica e chegasse na rede social, que aí, em
algum momento, um órgão da imprensa iria pegar”, relata.
Para o
professor, a grande repercussão que o assunto adquiriu demonstra que a
imprensa está mais interessada em dar destaque a questões
sensacionalistas. “Até então havia uma dúvida se a imprensa é
sensacionalista ou não, e a dúvida foi tirada com a polêmica. A imprensa
demonstrou que hoje está mais interessada no sensacionalismo e pouco
interessada em uma boa formação”, avalia Antônio Kubitschek.
A
questão envolvendo Valeska Popozuda fez com que o professor concedesse
pelo menos dez entrevistas. Ele relata que esperava repercussão, mas
ficou surpreso com a dimensão da polêmica provocada, e espera que o fato
gere debates sobre como formar uma imprensa melhor no país. A
Secretaria de Educação do Distrito Federal não vai se pronunciar sobre a
polêmica.
A funkeira Valeska Popozuda postou um comentário no
Facebook, no qual diz que se o professor tivesse usado um trecho de
qualquer outro gênero musical, talvez o assunto não tivesse ganhado
tanto destaque. “E se fosse MPB ou uma música americana, que tanto é
valorizada por nós? Será que daria a mesma polêmica?”, questiona.
Em
outro trecho, ela comenta. “Me espanta mesmo é todo mundo se preocupar
com uma única questão da prova, sem analisar os termos por trás disso
tudo. E se o professor colocou a questão dentro do contexto da matéria. E
se o professor quis ser irônico com o sucesso das músicas de hoje em
dia?”
O uso de músicas em provas é um recurso que tem sido
adotado com regularidade. A última prova do Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem) trouxe letras do músico Gabriel, O Pensador, e da banda
Titãs. Também no ano passado, a Universidade de Brasília incluiu o hit Camaro Amarelo, da dupla sertaneja Munhoz & Mariano, e o rap Vida Loka Parte II,
dos Racionais MC, na lista das obras musicais da matriz que poderia ser
cobrada na primeira etapa do Programa de Avaliação Seriada.
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